Automação para indústrias de nutrição animal (fábricas de ração): uma visão sensata, crítica, técnica e real

Reproduzimos aqui, na íntegra, a entrevista que um de nossos diretores, Alan Liberalesso, concedeu a algumas semanas atrás para uma jornalista da revista Ingredientes & Nutrientes, da Editora Stilo.

Uma visão sensata, crítica, técnica e real sobre temas tão importantes e sob a luz de alguém que possui vasta experiência neste mercado.

Uma entrevista bastante extensa e esclarecedora, que disponibilizamos aqui

Quais são os tipos de soluções voltadas para a automação das indústrias de rações são desenvolvidas pela empresa?

Desde soluções mais tradicionais, que envolvem a utilização de CLPs (Controladores Lógico-Programáveis) com IHMs (Interfaces Homem-Máquina) e/ou Supervisórios (telas do processo de fabricação rodando em computadores) estes comunicando entre si e com os equipamentos da fábrica, bem como soluções utilizando gerenciadores de batelada e de produção, bancos de dados, relatórios na WEB, podendo ser visualizados em smartphones, tablets, TVs/painéis, etc.) tudo voltado para a integração entre áreas e disponibilizar informações para os vários níveis da organização.

Poderia apontar os diferenciais, as características e os benefícios proporcionados por estas soluções voltadas à automação?

A Automação Industrial passou do estágio de simplesmente controlar o processo de fabricação ou a operação de máquinas e integração entre elas em linhas de produção. As ações de abrir/fechar válvulas, ligar/desligar motores, indicar na tela os sinais de sensores e medidores são consideradas triviais e conhecidas como “feijão-com-arroz” para sistemas de automação.

Posso afirmar que um dos diferenciais é tratar o dado (a informação) como algo tão importante quanto os intertravamentos e sequenciamentos entre os equipamentos. Pois o dado inexistente, errado ou incompleto impacta na produtividade, engessa setores da empresa, proporciona erros nas tomadas de decisões e gera problemas para os profissionais e para as empresas como um todo. Além de ser um dos primeiros passos para a Indústria 4.0.

Outra característica dos novos sistemas de automação é considerar que uma fábrica é uma composição de vários setores e vários tipos de profissionais e este público tem necessidades e atribuições distintas e a solução de automação deve estar alinhada com cada um deles.

Vamos pegar como exemplo o segmento das indústrias de nutrição animal voltada para aves, suínos e bovinos. Neste modelo temos a área de produção (com necessidades distintas entre operadores e gestores, um precisa operar e o outro precisa saber de produtividade, eficiência); temos também a área de manutenção (elétrica, mecânica, instrumentação, etc.) que está de olho em desvios, falhas e outros indicadores para poder atuar de maneira corretiva ou preventiva; a área de qualidade, que atesta que os produtos estão sendo produzidos e indo para o mercado dentro dos padrões preestabelecidos; a logística que precisa repor embalagens na linha de produção; o setor de compras, que por exemplo, não pode deixar um silo ou tanque esvaziar porque acabou a matéria-prima; a área de utilidades, as vezes num canto esquecido das fábricas mas de suma importância provendo energia, vapor, ar comprimido, água, tratamento dos resíduos; a engenharia, tendo informações para decidir por projetos que eliminem gargalos e aumentem a produtividade, entre outras ações; vendas, que sabendo o que tem no estoque e a capacidade e ritmo de produção pode vender o que é possível fabricar e entregar; e a diretoria, que recebe informações da automação e toma decisões para alavancar os negócios.

E porque não extrapolar para fora dos limites da empresa, já que várias destas áreas dependem de troca de informações com fornecedores? Dois exemplos: fornecedores de grãos sabendo o nível dos silos e a demanda de consumo e se organizar para não faltar matéria prima no silo do produtor de ração; estoque de embalagens e plano de produção do fabricante da ração conectado a sua cadeia de fornecedores deste tipo de material, que sabem quando devem produzir e entregar sacos, rótulos, caixas, entre outros.

Há novidades apresentadas recentemente? Quais são as versões e os diferenciais destas soluções?

Recentemente fizemos uma análise das demandas e carências das indústrias e dos profissionais das mesmas e tomamos a decisão de abrir uma nova área na Base Automação, voltada ao fornecimento de equipamentos tanto para automação, como para instrumentação e elétrica, com a proposta de provermos soluções técnicas que permitam eliminar ou reduzir problemas que tanto presenciamos em nossa experiência em todos estes anos na prestação de serviços no ramo de automação industrial.

O ingresso neste demandou e vem demandando uma nova experiência para o nosso time e para a nossa empresa como um todo, que envolve investimentos para estruturação física e de pessoal, capacitação técnica-comercial e obviamente, termos fabricantes/parceiros confiáveis tanto do ponto de vista técnico quanto comercial, que estejam caminhando ao nosso lado, nos orientando, nos apoiando e evoluindo em conjunto. Caso contrário ficamos na tradicional relação cliente-fornecedor, que não tem mais espaço no contexto do mercado atual, não só com os fabricantes, mas também para com os nossos clientes.

Atualmente temos condições de oferecer tanto itens pontuais para aquisição por parte dos clientes, como também apresentar soluções mais completas, reduzindo o número de fornecedores envolvidos, eliminando os riscos de integração, compatibilidade ou “pontas soltas” para muitos elementos desde o chão de fábrica até os pontos mais altos da pirâmide da automação/sistemas.

Equipamentos fundamentais para a automação e controle de processos nas indústrias de rações com chaves e medidores de nível para silos e tanques, sensores para válvulas, elevadores de canecas e transportadores, conectores industriais para emenda e derivação de cabos que não afetados por água e pó, cabos elétricos e de comunicação industriais dos mais variados tipos e diversas soluções conectividade e proteção fazem parte do nosso portfólio.

Caso não haja novidades, estão sendo programados novos investimentos da empresa para a sua linha de automação para 2022?

Para 2022 estamos buscando e capacitando novos profissionais para nossa área de serviços, para podermos atender as oportunidades que estamos recebendo; por outro lado, continuamos investindo na estruturação desta nossa nova área (equipamentos), um dos pontos que estamos trabalhando é no incremento de nosso estoque de materiais, permitindo pronta entrega para os nossos clientes, que muitas vezes tem demandas não planejadas e ficam reféns de tempo de fabricação e/ou importação, impactando em suas operações.

Quais são as atuais necessidades da indústria de nutrição animal quando a demanda são as soluções de automação?

Entendemos que uma solução de automação não é somente dependente dos equipamentos de automação propriamente ditos, das licenças de software de automação e dos serviços de programação e automação em si. A automação depende de vários outros elementos para que consiga atingir o seu propósito. Por isso são importantes a conscientização e tratativas com estes elementos. Darei alguns exemplos que ainda vemos muito em indústrias deste segmento:

– Os computadores onde as aplicações de automação rodam precisam atender a determinadas especificações técnicas, como sistema operacional, processador, memória, etc. E devem ser dedicados para esta finalidade. Não se atentar a isso se traduz em sistema que roda lento ou que congela, computador que trava ou que sofre interferências e é vulnerável a ações maliciosas;

– A comunicação entre os dispositivos precisa ser feita utilizando cabos, equipamentos, infraestrutura e instalações que atendam as especificações técnicas e a normas técnicas, evitando falhas de comunicação e paradas de produção em decorrência disso;

– Os sensores e medidores no chão de fábrica precisam atender as especificações técnicas requeridas, mas também as condições fabris como temperatura, umidade, pressão onde serão ficarão instalados;

– Motores e atuadores precisam ser adequados para a finalidade, não podem ser super nem subdimensionados, necessitam de alimentação elétrica, de ar comprimido estáveis, protegidos ou preparados para ambientes com umidade e pó;

– Todos estes precisam ser ligados aos painéis elétricos, sejam remotas de campo ou painéis centrais utilizando também cabos que atendam as especificações técnicas e normas, com conectores apropriados e vedados, encaminhamentos pela fábrica em instalações protegidas, evitando falhas destes sinais/medições e alimentando o sistema de automação com informações erradas, impactando no mesmo, nas tomadas de decisão dos usuários e na produtividade e qualidade.

– Dentro da área produtiva da indústria de nutrição animal vemos muito alguns equipamentos sendo fornecidos sem a preocupação de comunicação e integração com os outros equipamentos da fábrica, neste grupo se enquadram: misturadores, secadores, extrusoras, peletizadoras, engorduradores, entre outros. O fabricante destes fornece estes tipos de equipamentos sem se preocupar com a tecnologia existente na fábrica; o cliente, por outro lado, não sabe ou não determina que este siga a tecnologia que ele tem instalada na fábrica e o que vemos são equipamentos ilhados no ponto de vista de comunicação e troca de dados, e com isso nos deparamos, por exemplo, com fórmulas e receitas cuja automação pára no sistema de dosagem e os operadores que tem levar no papel e inserir manualmente parâmetros nestes equipamentos, e depois também manualmente obter e anotar os valores/resultados destes.

– Quando estivermos falando de banco de dados, sistemas de formulação, relatórios gerenciais, integração com outros sistemas, etc., é fundamental a cultura de acesso e proteção a informação, seja não permitindo acessos ou manipulações indevidas, seja proporcionando que a informação que é importante para determinados setores da fábrica chegue aos mesmos de maneira correta e filtrada, para que as tomadas de decisão e ações sejam feitas no que é pertinente e real, sem achismos.

Quais foram as principais evoluções observadas ao longo dos anos nos sistemas de automação para as indústrias?

Nos últimos anos acompanhamos maior oferta de equipamentos e soluções conectadas em uma rede de comunicação padrão (que permitiu integrações e troca de dados que antigamente não eram possíveis), adesão de dispositivos wireless na área produtiva (permitindo mobilidade aos usuários com a utilização de smartphones, tablets e outros dispositivos), utilização de historiadores de variáveis dos processos produtivos, ferramentas de apresentação e análise de dados, sistemas rodando em ambientes virtualizados, dados sendo armazenados em nuvem, relatórios em páginas Web conectados a Internet.

E mais recentemente, a iniciativa chamada de “Indústria 4.0″* e os benefícios que ela proporciona, sendo abraçada e divulgada pela maioria das entidades e fornecedores de tecnologia, bem como por instituições de governo de alguns países, trouxe curiosidade e provocou o mercado. Profissionais de vários níveis das organizações industriais buscaram e buscam se informar e saber do que se trata, fazer analogia ao que já tem ou não tem nas empresas onde eles atuam. E aos poucos estão promovendo e participando desta transformação.

Porém é importante frisar que boa parte do parque industrial brasileiro não tem automação alguma ou é defasado tecnologicamente ou possui ilhas de automação, defasadas ou não. E com isso não temos e não teremos nada de Indústria 4.0. Explico o que está ocorrendo: infelizmente por conta de desinformação, falta de entendimento ou de alguns gurus que propagandeiam a promessa milagrosa da sonhada Indústria 4.0, muitos profissionais nas indústrias só pensam e falam na inteligência artificial, nos óculos ou dispositivos de realidade aumentada, nas impressoras 3D da manufatura aditiva, nos robôs executando as tarefas e os profissionais sendo informados e tomando decisões em tempo real. É necessário entender que são muitos passos para chegar a isso, e que não existe uma caixinha na prateleira do mercado chamada “Indústria 4.0”, com slogan “compre e seja feliz”. E os primeiros passos é onde a imensa maioria das empresas está, ter um processo de fabricação e linhas de produção automatizadas, coletando dados através de sensores no chão de fábrica, estes dados sendo tratados e armazenados de maneira correta e eficaz, e por aí vai, e eliminando as ilhas de produção e de dados, horizontais e verticais na organização, integrando e beneficiando os profissionais de vários setores da indústria. E para isso temos um longo caminho a percorrer. E várias empresas já deram ou estão dando os primeiros passos neste sentido.

* Resumindo o conceito apresentado pelo Portal da Indústria (https://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/industria-4-0/), a Indústria 4.0, também chamada de Quarta Revolução Industrial, é um conceito que representa a automação industrial e a integração de diferentes tecnologias como inteligência artificial, robótica, internet das coisas, realidade aumentada, entre vários outros, com o objetivo de promover a digitalização das atividades industriais melhorando os processos e aumentando a produtividade.

Qual é o suporte/assistência pós-venda oferecido por sua empresa aos clientes?

Sabemos que um projeto de automação tem um começo (estudos, requerimentos, especificações, definições), um meio (documentação, preparação, configurações, desenvolvimento, testes) e um fim (implantação, validação, treinamento) mas o sistema/solução entregue ao cliente ficará em operação e sendo utilizado por vários e vários anos. E neste período existirão demandas por suporte, manutenção, implementação de melhorias e novas funcionalidades, expansões.

Nossa empresa atua tanto em projetos quanto em manutenção/suporte/melhorias, não deixamos o cliente desamparado durante o ciclo de vida do sistema de automação.

Este suporte/assistência pode ser realizado através de atendimentos pontuais agendados ou emergenciais, contratos de manutenção, pacotes de horas para suporte e melhorias.

Boa parte de nossos clientes não realizaram o seu projeto de automação conosco, nós passamos a atuar nos mesmos com os sistemas já implantados, onde os clientes tiveram e tem necessidades de suporte, manutenção e melhorias e o fornecedor ou fabricante que os atendeu ou tinha/tem foco somente em projeto e encerra o relacionamento com a entrega do mesmo ou não tem estrutura e/ou interesse em atuar com este tipo de atividade.

Qual a expectativa da empresa para este mercado de automação?

O mercado está aquecendo e aos poucos retomando a sua curva de investimentos e crescimento.

Porém a imensa maioria dos clientes estão mais carentes de empresas que entendam as necessidades de negócio dos mesmos, que atuem para resolver os problemas e dores que eles tem, para isso é necessário que conheçam as opções disponíveis no mercado e que traduzam isso em soluções técnicas, não se resumindo simplesmente em venda fria de equipamentos, licenças de software e serviços de desenvolvimento e implantação.

A Base Automação está posicionada como uma empresa de pequeno porte atuando como integrador de sistemas de automação industrial e fornecedor de soluções técnicas tanto para equipamentos quanto para serviços.

Este posicionamento e estrutura nos coloca numa faixa que fica entre as microempresas deste ramo, na imensa maioria formadas por um único profissional, e os grandes integradores e fabricantes de tecnologia.

Por um lado existe uma oferta com características e restrições que permitem um custo relativamente inferior; por outro lado outra oferta também com suas vantagens e desvantagens, a um custo relativamente superior.

Não existe um modelo ideal e existe espaço no mercado para quase todos, exceto para as empresas e profissionais que atuam de maneira ilegal, geram problemas e perdas para os clientes, manchando a imagem setor de automação. Felizmente estes mais cedo ou mais tarde são expurgados.

Nosso desafio é continuar mostrando ao mercado nossos diferenciais e nossa proposta de valor, que está alinhada com nossa estrutura e capacidade de entrega.